Carvão

Música recomendada:

O fogo começa, calma e lentamente. A fumaça começa aos poucos a cobrir o local, um banheiro fechado. Ele está sentado no chão, num canto, cabeça baixa. À medida que o carvão queima, ele começa a se lembrar. Lembra-se de tudo o que lhe fizeram nas últimas duas décadas. Lembra das humilhações, da dor, do ódio, da raiva. Vê na fumaça o menino que lhe batia quando pequeno, ouve também as vozes que o recriminavam pela roupa, pelo cabelo, pelo jeito.

 “esquisito”! “viadinho”! “seu merda”! “vai procurar os da tua raça”! “otário”!

Lágrimas começam a escorrer de seus olhos quando se lembra dos sonhos que tinha, de tudo o que planejava quando pequeno, de tudo o que tentou começar e que nunca conseguiu. Por um momento deseja voltar no tempo e reparar algumas coisas, aqui em meio a essa fumaça sufocante, a solução parece simples.

Chora… chora muito, mas tenta se controlar e pega o celular. Manda algumas mensagens em tom de despedida para seus amigos. Não quer contar exatamente o que está fazendo, do contrário poderiam tentar impedi-lo aqueles que sempre acham que se deve continuar vivo, mesmo no fundo do poço. Manda mensagens a todos que se lembra, incluindo a única pessoa que ele conseguiu amar na vida, mas que graças à sua má sorte não o correspondia, para quem escreve:

“eu te amo, nunca esqueça disso, eu sempre te amei e sempre vou te amar, e vou te levar comigo no coração. Obrigado por sua amizade”.

Ele já está tossindo e ofegante depois de escrever a última mensagem. Luta para se manter acordado, o coração parece querer saltar do peito, a cabeça já está leve. Como um último gesto, ele que sempre acreditou que havia algo mais acima de nós, une as mãos e começa uma prece:

Deus, bons espíritos,
Perdoem minha falha,
Eu não pude mais suportar.
Esse é um mundo vazio
No qual eu não quero mais viver.

Eu lhes entrego minha vida,
Eu espero ter paz,
A paz que eu nunca tive

Enquanto habitei esse corpo.

Peço que confortem
O coração de minha mãe,
A única que de verdade
Me amou.

Peço que a ajudem
A me perdoar algum dia.

Assim seja.

 

Não aguenta mais falar. Dá um último suspiro, busca oxigênio, que ali não há. Fecha os olhos e aos poucos deixa este mundo. Foi ser encontrado no outro dia, quando seus pais vieram procura-lo. Ainda estava sentado, com a cabeça sobre os joelhos. Já não havia mais fogo, nem fumaça. Só haviam os restos de carvão, únicas testemunhas do fim de uma vida.

 

 

O “espiritismo Brasileiro” e os suicidas

Pois é. Quando você acha que encontrou um porto seguro você começa a se decepcionar com aquilo também. E hoje, hoje eu me descobri decepcionado com a única coisa que me mantém vivo e com um pouco de esperança, o espiritismo. Por mais que ler e estudar Kardec seja a melhor coisa da minha vida ultimamente, faltam pessoas com quem ter um debate sério, com quem ter uma conversa proveitosa. A maioria do que tem por aí é o chamado “espírita cristão”, ou “espírita brasileiro”, essa mistura grotesca de espiritismo e catolicismo. A minha decepção vem de saber que eles estão cada dia mais arruinando o espiritismo, a obra que Kardec codificou com tanto esmero. Somos poucos os espíritas puros, e desses poucos já tem gente começando a crer nas colônias de Maria, onde espírito bebe, come e ETC. está ficando difícil ser espírita hoje em dia, se não vejamos um caso gritante disso, o terror do suicídio.

O espírita ou o espiritismo devia ajudar um depressivo suicida, não pedir pra ele ficar e se lascar ainda mais. Mas isso não acontece, ao menos comigo não acontece. O “Espiritismo” brasileiro condena muito mais o suicídio que o homicídio. É estranho para uma doutrina que pretende ser caridosa, mas isto é fato. Para os “espíritas”, enquanto o homicida é visto como um “justiceiro de vidas passadas”, o suicida é alguém que desobedeceu o Gigante Invisível que todos chamam de “Deus”. Só que esta opção mostra ainda mais que o caráter altruístico do “Espiritismo” brasileiro é uma farsa.

Entusiastas da Teologia do Sofrimento, que acredita que a prosperidade vem depois da dor, não conseguem entender o sofrimento alheio, preferindo aconselhar o suicida em potencial a suportar sua condição, mesmo que seja a pior das torturas. Se você procurar na internet, verá que não estou errado. Não há (ou se há, é bem pouco) material que ajude de verdade a um suicida, sendo o pouco material existente a própria obra de Kardec, que embora fale sobre o “crime do suicídio” e que “um suicida do outro lado pode sofrer 100 vezes mais do que aqui na terra”, não nos condena ao fogo, a um vale de gente que se tortura vendo a repetição de seu ato desesperado, nem nada dessas coisas. Somente se vê isso em obras da literatura “espírita brasileira”, que mais parecem reinterpretações do inferno de Dante do que psicografias.

Mas se esquecem os “espíritas” que ninguém se mata por diversão. Se alguém decide encerrar a sua vida é porque ela se tornou insuportável. O problema que originou a infeliz decisão se tornou insolúvel. E normalmente suicidas são pessoas que não obtiveram algum tipo de ajuda para resolvê-las. Metidos a científicos , os “espíritas” se limitam a dizer “você está proibido de se matar”. Na tentativa de justificar, preferem fazer como outras religiões e usar o medo: “se você se matar, vai sofrer ainda mais no Vale dos Suicidas“. Vale dos Suicidas é um setor do fictício Umbral, nome que dão ao inferno cristão, já que no Brasil o “Espiritismo” nunca passou de um Catolicismo sem batina e reencarnacionista. E católicos adoram meter medo para justificar suas “punições”. Metendo medo aqui na terra, esses falsos espíritas fazem com que os suicidas por eles ameaçados se prendam, depois da morte, ainda mais em sua culpa e medo criando, aí sim e por força da mente e da culpa que lhe colocaram encima, o seu próprio “vale dos suicidas”.

Porque os “científicos” “espíritas” não usam a lógica para criar soluções para resolver os problemas de quem quer se matar? Porque acham que é melhor intimidar através do medo? Certamente é bem mais fácil meter medo do que raciocinar para criar uma solução. Para piorar ainda mais a situação, os “espíritas” consideram o suicídio um crime, e além de abalar a já baixa auto-estima de quem pretende encerrar a sua vida, serve de encorajamento, pois rotulado de criminoso, a pessoa se sente ainda mais inferiorizada e cria a coragem que faltava para cometer a decisão drástica que poderia ser resolvida se recebesse um auxílio mais racional.

O “Espiritismo” brasileiro sempre foi uma farsa. A aversão irracional que eles tem dos suicidas só comprova isto, mostrando que os adeptos do beato católico Chico Xavier, não são de fato altruístas, pois nunca agem para impedir o cometimento do suicídio que tanto reprovam, preferindo encorajá-lo através do medo e da colocação de rótulos ofensivos.

cartas

Escrevo cartas tristes
que se espalham com o vento
Mas nunca chegam a ninguém.
É que quando alguém começa a ler,
logo encontra a verdade de si mesmo E quer fugir,
então simplesmente lança as cartas de novo ao vento,
para que cheguem até aqueles
de coração forte.

Como estes são poucos,
minhas cartas voam e voam
sem nunca parar.

Talvez, quando eu passar para o outro lado
alguém leia meus escritos
e se lembre de mim.
E então eles dirão:
“Oh, ele escrevia bem,
pena que se foi e não poderá mais escrever”.

Mas já estou deixando meu legado,
pois o homem é o que ele faz em vida
e pelo que ele é lembrado post mortem.
Por isso sigo escrevendo
num lugar onde sei que por muito tempo
meus escritos não irão se perder.

E a cada vez que alguém ler um de meus textos,
Eu estarei ao lado desta pessoa
Chorando se ela chora,
sorrindo se ela sorri.
Para sempre!

O Diabo sou eu Mesmo?

E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.
E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus

Lucas 4:1-4

E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o SENHOR teu Deus, e só a ele servirás.

Lucas 4:5-8

É possível se fazer várias especulações sobre esse figura do mal “encarnado” no Diabo. Para Raul Seixas, por exemplo, o diabo é o pai do rock! Para os padres católicos da idade média, entretanto, a sensualidade das mulheres, tão essencial à vida humana, tinha algo de diabólico, tentador, digno de ser queimado na fogueira. Para Nietzsche, por sua vez, o Diabo é o mais velho amigo do conhecimento, porque ousa desafiar as certezas da vida e mergulhar no abismo das dúvidas. Vamos então dar uma olhada no Diabo, esse nosso velho amigo, ainda que de modo impreciso e arriscado.

O diabo como divindade

Feuerbach afirma que as representações e segredos atribuídos a seres sobre-humanos não são mais do que representações humanas naturais. Para ele consciência de Deus é a consciência de si do homem, uma espécie de projeção em outra figura daquilo que somos. “o homem possui uma vida interior, é a vida relacionada com seu gênero, com sua essência, o homem pensa, ele conversa, fala consigo mesmo” (cf. Feuerbach, p.44), Como o Diabo (Satanás) é um espécie de ser sobre-humano, não custa arriscar que o diabo é também o “mal” que vive dentro do homem, uma espécie de potencial para fazer coisas moralmente reprováveis e que é objetivado, melhor dizendo, colocado para fora como um ser estranho, porque só assim podemos enxergá-lo melhor.
Usando agora uma terminologia de Hegel, não é o mal efetivo, o mal que realiza o seu potencial, mas somente a semente do mal em um estágio, por assim dizer, de letargia. Porém nós não permitimos que esta semente do mal saia do seu estado de concentração, não deixamos que ela floresça no espaço e no tempo e se entregue ao nosso livre arbítrio, exatamente porque não existe lugar em nosso mundo para expressar essa maldade em todo o seu potencial devido, quem sabe, a interdições morais bem conhecidas. Observe que isso não é sem custo: o mal fica represado dentro de nós, talvez como fonte de angústia, porque é uma potência, alguma coisa que, podendo se realizar, é mantido em si mesmo, como um rebelde entre grades, um guerreiro “bárbaro” acorrentado. Podemos, apesar disso, e como acontece no mundo real, encontrar atalhos e desvios, sublimar em expressões mais “elevadas” ou transviar essa maldade e ocultá-la em expressões aparentemente mais inofensivas.
É o caso, por exemplo, de pessoas que, não encontrando expressão aceitável ao ódio que sentem pelos próprios pais, ou por quaisquer outras pessoas a quem atribuem grande autoridade e poder, agridem violentamente as mulheres, negros, nordestinos e homossexuais. Outros, de maneira menos óbvia, passam a agredir moralmente outras pessoas por motivos mais banais, como gosto musical, diferenças de idade, origem social etc.

Quais seriam as raízes do mal?

Roy Baumeister, psicólogo da Florida State University, considera que há quatro raízes do mal que configuram o fundamento do ódio: a convicção de que a própria posição é boa e de que as outras são más, o desejo de vingança pelas injustiças e humilhações sofridas, a avareza e o sadismo.
Por sua vez, Robert J. Sternberg, professor de psicologia e decano da Faculdade de Artes e Ciências da Tufts University (Medford, Massachusetts), elabora, em The Nature of Hate, uma das teorias mais completas e atuais sobre o tema. Na sua opinião, o sentimento possui três componentes fundamentais: a negação de intimidade, a paixão e o compromisso.
O primeiro, a negação de intimidade, implica manter à distância o indivíduo que nos provoca repulsa, a qual pode decorrer das ­suas características pessoais, das suas ações ou de uma campanha de propaganda destinada a mostrá-lo como um ser infra-humano, incapaz de albergar sentimentos de proximidade e que não merece, pois, compaixão nem respeito. Esse distanciamento criado por um aparelho propagandístico pode permanecer latente durante décadas para, depois, se ativar novamente e reaparecer na forma de vingança. No Ruanda, os hutus e os tutsis conviveram em relativa paz durante muitos anos. De súbito, uma campanha lançada contra os segundos fez a harmonia degenerar em chacinas e genocídio.
Como estamos especulando, poderíamos acrescentar dizendo que o mal, como ódio, é a reação ainda infantil do indivíduo que não alcançou aquele estado considerado como o de maturidade, qual seja, a capacidade de aceitar um “não” da realidade. Os seus desejos continuam infantis, sem limites, ele não consegue absorver o “não” que lhe vem de fora como algo de seu, integrar e conciliar a contradição entre os seus próprios desejos e a sua capacidade limitada de satisfazer esses desejos. Já o mal, como pecado da carne, é aquela tentativa de satisfazer os próprios desejos fora das prescrições ditadas pelo costume, como, por exemplo, fazer sexo fora do casamento ou com pessoas do mesmo sexo ou muito jovens, com parentes próximos ou animais, o que parece reduzir o mal, de qualquer forma, à essa incapacidade do indivíduo de conciliar a contradição entre eu e não-eu em uma síntese superior. Seria tedioso listar todos os males, incluindo os políticos, mas é suficiente dizer que o que entendemos como mal tem certamente um caráter histórico e social.

O diabo como projeção do “eu”

Esse tipo de projetar para fora, segundo Freud, é um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa “projeta” seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis numa ou mais pessoas. Para alguns psicanalistas e psicólogos trata-se de um processo muito comum que todas as pessoas utilizam em certa medida. Peter Gay define projeção como “a operação de expulsar os sentimentos ou desejos individuais considerados totalmente inaceitáveis, ou muito vergonhosos, obscenos e perigosos, atribuindo-lhes a outra pessoa.”
Para explicitar a manifestação da projeção, a teoria psicanalítica ampliou o sentido e definição do conceito, concebendo-a como uma operação na qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro, pessoa ou coisa, as qualidades, os desejos, os afetos, os sentimentos e até mesmo os “objetos” que estão internalizados e ele desdenha e/ou recusa aceitar e/ou admitir que lhe são pertencentes.
Para justificar a existência dos eventos por eles produzidos, o indivíduo desloca-os para alguém ou alguma coisa que esteja fora, realizando uma ação projetiva.

 

Fontes:

Fantasma

Ser quimérico e vão cujo nome apenas derramou mais sangue na face da terra do que jamais fará qualquer guerra política, por que não retornas ao nada de onde a louca esperança dos homens e seu ridículo temor infelizmente ousaram te arrancar?! Tu que só surgiste para o suplício do gênero humano, quantos crimes seriam poupados na terra se houvessem degolado o primeiro imbecil que ousou falar em ti! Vamos, aparece se existes e não admitas que uma frágil criatura ouse te insultar, afrontar, ultrajar como faço, renegando tuas maravilhas e rindo de tua existência, feitor de pretensos milagres! Faz um só para provar que existes! Mostra-te, não numa tocha de fogo como dizem ter aparecido ao bom Moisés, não sobre uma montanha como te mostraste ao vil leproso que se dizia teu filho, mas junto ao astro que te serve para iluminar os homens. Que tua mão apareça guiando-o aos olhos deles! Esse ato universal decisivo não te pode custar mais do que todos os prestígios ocultos com que dizem operar todos os dias. Tua glória depende disso. Ousa fazê-lo ou deixa de espantar-te que todos os bons espíritos rejeitem teu poder e se furtem a teus pretensos impulsos, às fábulas que, em suma, publicam a teu respeito todos os que engordam como porcos pregando-nos tua fastidiosa existência e que, semelhantes a esses padres do paganismo alimentados com as vítimas imoladas nos altares, só exaltam o ídolo para multiplicar seus holocaustos.

Estais aí, padres do deus falso a quem Fénelon cantou, regozijando-vos por terdes incitado nas trevas da época os cidadãos à revolta? Apesar do horror que a Igreja disse ter pelo sangue, à frente dos frenéticos que derramaram o de seus compatriotas, subirdes nas árvores para dirigir vossos golpes com menos perigo. Era então o único modo de pregar a doutrina de Cristo, deus da paz. Mas logo que fostes cobertos de ouro por servi-lo, satisfeitos por não ter de arriscar mais vossos dias a sua causa, passastes a usar de baixeza e sofismas para defender sua quimera. Ah! Que ela desvaneça para sempre convosco e nunca mais palavras como “Deus” e “religião” sejam pronunciadas!

E os homens em paz, só tendo de cuidar da felicidade, saberão que a moral que a estabelece não necessita de fábulas para firmá-la, e que, afinal de contas, amontoá-las sobre os altares de um Deus ridículo e vão que o mais leve exame da razão pulveriza logo ao primeiro exame, é desonrar e manchar todas as virtudes. Evapora-te nojenta quimera! Retorna às trevas de onde vieste, e não macules mais a memória dos homens. Que teu nome execrado só se pronuncie em meio à blasfêmia, que torturem até a morte o pérfido impostor que no futuro queira reedificar-te sobre a terra! E sobretudo não permitas mais que esses bispos carnudos de cem mil libras de renda vibrem de satisfação ou urrem de alegria. Esse milagre não valeria o que te proponho; e se deves nos mostrar um, que ao menos seja digno de tua glória. Por que te esconder de quem tanto te deseja? Temes assustá-los ou receias sua vingança? Ali, monstro, como a mereces!… Terá valido a pena criar o homem para depois mergulhá-lo num abismo de desgraças? Será com atrocidades que deves assinalar tua potência? E tua mão esmagadora, não terá de ser amaldiçoada por eles, fantasma execrável? Sim, tens razão em te esconder. Choveriam pragas sobre ti se tua face hedionda aparecesse aos homens… Os infelizes, revoltados com a obra, fulminariam logo o operário!

Fracos e absurdos mortais cegos pelo erro e pelo fanatismo, abandonai essas ilusões perigosas em que a superstição tonsurada vos mergulhou; refleti sobre seu poderoso interesse em vos impingir um Deus, sobre o poderoso crédito que lhe dão tais mentiras acerca de vossos bens e espíritos, e vereis que esses trapaceiros só anunciam uma quimera e que, do mesmo modo, tão degradante fantasma só haveria de ser precedido por bandoleiros. Se vosso coração precisa de um culto, oferecei a ele os objetos palpáveis de suas paixões: ao menos sereis satisfeitos com alguma coisa real nessa homenagem natural. O que sentis após duas ou três horas de misticismo deífico? Um gélido nada, um abominável vazio que, sem nada fornecer aos vossos sentidos, mergulha-os necessariamente no mesmo estado de quem tenha adorado sonhos e sombras! Nossos sentidos materiais poderiam ligar-se a outra coisa que não à essência de que são formados? E com sua frívola espiritualidade que nada realiza, vossos adoradores de Deus não se parecem todos com Dom Quixote tomando moinhos por gigantes?

Ó execrável aborto! Deveria abandonar-te a ti mesmo agora, entregar-te ao desprezo que tão-só inspiras e deixar de combater-te outra vez nos devaneios de Fénelon. Mas prometi cumprir minha tarefa. Manterei feliz minha palavra se meus esforços chegarem a desenraizar-te do coração de teus sectários imbecis, e possam, ao pôr um pouco de razão no lugar de tuas mentiras, estremecer de vez teus altares, mergulhando-os para sempre nos abismos do nada…

Trecho de: Diálogo entre um padre e um moribundo E outras diatribes e blasfêmias, de Donatien Alphonse François de Sade (Marquês de Sade)

 

 

Aqui estamos nós, De volta!

Aqui estamos nós, 2 anos depois, de volta com esse blog!

Foram tempos difíceis, conturbados, doídos. Mas foram tempos de grandes mudanças, de grande aprendizado e de uma reforma interior que não sei se me mudou para melhor ou para pior. Em dois anos longe, muita coisa aconteceu. Mas isso a gente conta nos próximos posts, o que importa é que ESTAMOS DE VOLTA NESSA BAGAÇA!

 

E aí uma musiquinha pra alegrar!!

Parem de perturbar a fé dos outros!

é dom gratuito. Uns têm e, outros, não. Ficar fazendo apologia de uma determinada fé é cabível quando ela não envolve a satanização de quem não adere. Aqui é uma questão de educação, de civilidade, de compreensão sobre a liberdade do outro e sobre a singularidade do outro.

Se o país, pela Constituição Federal, é laico, as pessoas podem não ser e ter direitos a frequentar e praticar a sua religião sem ser molestados, usando outra prerrogativa Constitucional que é o direito de ir e vir, de pensar e de se associar.

Cabe aos governantes e demais autoridades exigirem o cumprimento das leis porque apedrejar uma pessoa por causa de sua fé é crime que pode configurar uma lesão corporal e até a morte.

São, portanto, irresponsáveis aqueles religiosos que pregam a intolerância e que, ao mesmo tempo, esperam as decisões do Supremo Tribunal Federal para entrar nas escolas e ensinar a sua fé para os que quiserem —ou não quiserem— ouvir.

Não vejo com bons olhos as cores que estão sendo impregnadas nos horizontes. Se o ensino religioso tiver uma cor cinzenta dado que a legislação deseja um ensino não proselitista, pergunto, então, a quem ele interessará? Se for proselitista, não estará adequado às propostas legais. Mas o que mais me preocupa é a transformação das escolas em palcos de disputas, agressões e ofensas mútuas, onde cada um defende a sua fé como único caminho para se chegar a Deus.

Caso tal situação seja configurada pela falta de preparo dos docentes, as escolas em vez de serem locais onde os alunos devem aprender a conviver, será um espaço onde haverá o aprendizado da violência que, na verdade, fere todo e qualquer princípio religioso que visa aproximar as pessoas, porque, se há um criador, as criaturas serão a sua imagem e semelhança.

Hoje, é verdade, os professores costumam ser até agredidos pelos discentes e até por algumas famílias. O que desejo saber é se algum professor de ensino religioso agredir verbalmente ou fisicamente um aluno, se ele será corrigido pelas secretarias de educação, tanto quanto os demais profissionais das disciplinas acadêmicas. Espero que não seja a religião um escudo para a prática de desumanidades porque, se as que ocorrem em via pública adentrarem as escolas, teremos uma deseducação religiosa.

Bons eram os tempos em que pessoas ligadas a várias confissões ministravam ensinamentos nas igrejas, templos e escolas numa ação totalmente gratuita.

Não podemos confundir a ação virtuosa de quem ensina alguma doutrina religiosa com a ação voraz de quem quer, a qualquer custo, um contrato pago pelo poder público.

Como o panorama se apresenta, o ensino religioso poderá ajudar na melhoria da convivência, no entanto, como alguns se comportam na sociedade, não será novidade se o dano for pior que a proposta.

Sexta-feira 13

E aí, Povo! Eu ia escrever algo pra esse dia, mas como a tradição manda, esse foi pra mim um dia com mais azar do que eu tenho normalmente e eu não tive tempo nem criatividade. Mas para não passar em branco essa data incrível, deixo um vídeo de um cara muito foda que infelizmente não tem mais espaço na TV, Gil Gomes. Esse material é meio velho, da época do “Falando francamente” do SBT, mas é interessante! A galera nova pode não ir muito com o jeito dele contar, mas a história é boa!

Abraços e não esqueça de comentar!

Angústia

A respeito da angústia: Muitos tem tentado descrever a angústia, pois eu vou descrevê-la aqui do ponto de vista de quem a vive e conhece de muito perto, de mais perto do que qualquer mortal certamente desejaria conhecer.

Ah, a angústia. Essa musa de cabelos e olhos negros, vestida de negro dos pés à cabeça. Essa mulher, ah, essa maldita mulher, que pode ser vista em qualquer esquina espreitando jovens garotos pensativos e sequiosos de aventura, mas também senhores e senhoras cuja vida e a estadia na terra já podem ser consideradas como horas extras cobradas de um salário mirrado, essa mulher, dizia eu, que embora ande durante o dia, prefere a calada da noite para dar seus golpes mais violentos. Eu muitas vezes a vi, ou ela foi quem me viu? Enfim, dizia eu que muitas vezes, ao sair pela rua, de madrugada e no silêncio que gritava mais do que tudo em meus ouvidos, fui surpreendido pelo contato de seus dedos frios e fui engolido pelo seu olhar melancólico, um olhar tão profundo que, garanto, é capaz de engolir até a mais gélida das almas, viventes ou não, arrisco-me a dizer que até os ossos recém enterrados de um cadáver se poriam a revirar no esquife só com o seu olhar.

Oh, quantos ela já não derrubou? Quantas não foram as cartas, escritas com sangue e lágrimas que foram encontradas do lado ou debaixo de corpos esqueléticos, mutilados por um tiro ou por veneno, e que diziam o quanto a angústia os tinham feito sofrer? Mas independente das acusações ela segue firme seu caminho, e você tenha cuidado, pois se deixar que ela te toque uma, duas, três vezes, ela se vicia em você e você nela, e um dia ela te derrubará!

E quanto a mim, você se pergunta, eu não fui derrubado? Não por enquanto, caro leitor, mas já me foram quebrados os braços e as pernas, as lágrimas já caem, só vou torcer agora para não começar a sangrar até a morte!

Alex K. S.

O vale dos depressivos

Oi! Que bom que veio! Hoje eu vou te levar numa viagem, vamos conhecer o lugar onde eu vivo agora que me suicidei. Vamos, vem comigo conhecer… O vale dos depressivos!

O vale dos depressivos é um lugar escuro, sombrio e sujo, para onde os suicidas depressivos vão após suas mortes. Aqui não há luz, por que depressivos não suportam luz. Aqui só há escuridão, talvez alguma iluminação venha daqueles que morreram pelo fogo e que, coitados, mesmo depois de mortos seguem se queimando. Tem muitos aqui, sabia? É triste de se ver.

Ah, olha, ali temos o homem que se jogou debaixo do trem. Pobre, ainda sente a dor e crê que sua cabeça é continuamente esmagada pela composição, mas já está morto! Ele grita um bocado, é difícil ficar perto dele.

Você sabe, aqui tem de tudo! Tem as garotas e garotos que, com o término do primeiro amor de brincadeira resolveram se matar. É feio ver as menininhas de cujos pulsos desce sangue como água de uma torneira, e elas gritam por socorro, que já chega e que já pagaram por tudo, mas é em vão, e convém que eu te diga que aqui gritar é em vão, chorar é em vão, só sofrer é o que vale!

Aqui nós moramos nessas cavernas imundas de pedra. Quer dizer, moramos não, tentamos nos esconder, por que isto é um caos! Você precisa ver quando os garotos que se afundaram nas drogas e morreram de overdose começam a discutir e brigar, salve-se quem puder! Aqui sai muita porrada, muita confusão, sabe gente que quer achar que o seu sofrimento é maior do que o do outro? Pois é, daí entram na maior briga pra provar e você tem a confusão armada!

Mas tirando isso, aqui ninguém julga ninguém e é isso que traz a paz para esse lugar em 90% do tempo. Paz? Num lugar desses? Sim, paz! Paz por que aqui todos são iguais, todos são suicidas, todos são depressivos e tristes, todos tem afinidade uns com os outros. Se não fossem os vivos, na terra, e sua mania de julgar e crucificar os diferentes, ninguém teria que se matar e vir para cá, buscar paz e tranquilidade nesse lugar. Se não fosse a sociedade e suas regras patéticas, ninguém se sentiria estranho, deslocado ou diferente e ninguém se mataria, pra ter que vir pra cá e ficar preso aqui sem poder sair e sem descanso do sofrimento, aqui o único jeito de descansar é deitar sobre essa lama viscosa, feita da carne e do sangue dos mortos, dos assassinados pela moda, pelos padrões, pela moral, pelo fanatismo religioso, pela homofobia, enfim, enfim…

Quando chegar à terra, explique que as pessoas só querem ter o direito de serem elas mesmas, sem preconceitos, julgamentos ou discriminação. Explique que para esvaziar este inferno aqui, a sociedade só precisa ser mais compreensiva, aceitar as diferenças, os gostos e desejos de cada um. Diga, por fim, que a depressão no mundo só acabará quando a sociedade esquecer velhas leis de 2000 anos em favor da nova era, quando as pessoas deixarem de impor aos outros sua maneira de viver, quando o homem entender que é livre, totalmente livre e dono de si e que, por isso, nada nem ninguém pode dizer como ele deve ou não deve agir!

Vá, vá em paz! Pense nisso e espalhe a palavra!

De um espírito amigo.

O verdadeiro paraíso

Você foi expulso dos campos Elísios,
Por que os deuses hipócritas que lá vivem
Não toleraram sua ínfima falha.
E eu vi, eu senti Quando você chorou,
E eu sequei suas lágrimas de sangue.

Te tomei pela mão e te mostrei meu lugar,
O verdadeiro paraíso, Onde você é totalmente livre.
Livre para amar, livre para odiar,
Livre para errar e para acertar,
Para ser um pecador ou um santo,
Livre para ser o que você quiser!

Muitos chamam este lugar de maligno,
Dizem que é um lugar ruim,
E que você está condenado se está aqui.
Não acredite neles, não!
Este é só um lugar de passagem,
você é eterno E poderá sair
quando sentir necessidade.
Apenas aproveite sua estadia,
Dance ao redor do fogo,
Brinque com outras almas Que como você
só querem ser livres.
Sacie seus desejos,
sua sede e fome,
Aqui você é livre,
lembre bem disso!

Bem-vindo à terra da liberdade,
Bem-vindo ao inferno!